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Breve história da freguesia de Amora

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A freguesia de Amora, nos finais do século XIV, englobava toda a área entre o Rio Judeu e Almada, enquadrando-se dentro do Termo de Almada até ao ano de 1936, data em que foi integrada no então criado Concelho do Seixal. A partir desse ano ficou a pertencer a este concelho juntamente com as Freguesias de Seixal, Arrentela e Paio Pires.
Em 1895 quando o Concelho do Seixal foi extinto, Amora voltou a pertencer a Almada até 1898, ano da restauração do Concelho do Seixal. Em 1976 foi criada a Freguesia de Corroios (Diário da Républica, nº. 241776, de 7 de Abril) e em 1993, a de Fernão Ferro (Lei nº. 17-d/93, de 11 de Junho). Um dos mais interessantes testemunhos históricos é a Olaria Romana da Quinta do Rouxinol (finais do séc. I.- A.C., a finais do séc. IV - D.C.). Esta olaria fazia parte do complexo industrial da produção de preparados de peixe, que se desenvolveu no estuário do Tejo durante o período da ocupação romana. Os fornos, ainda hoje visíveis, destinavam-se a cozer as ânforas nas quais era embalado o “garum” e outros preparados de peixe, muito apreciados em Roma. A mais antiga referência conhecida à localidade de Amora deve-se a Fernão Lopes na sua crónica de Del Rei D. João I, ao mencionar que no ano de 1384 o regedor e defensor do reino, D. João, tem galés na enseada de Amora. Entretanto a força atrativa do esteiro do Tejo levou Amora a estender-se para junto do rio, ficando assim constituída por dois núcleos principais: Amora de Baixo (à beira do rio) e Amora de Cima (junto à Igreja Matriz), para além das quintas de fidalgos que eram bastantes nesta área. Uma das famílias mais antigas que aqui se estabeleceu foi sem dúvida a dos Lobatos que, por laços de casamento, se ligou a outras famílias conhecidas. 

O Rio Judeu deve esta designação ao facto de banhar a Quinta Famosa (também chamada Quinta de Amora, Quinta de Infanta e Quinta da Princesa, este último nome pelo qual é mais conhecida) que pertenceu, no tempo do rei D. Fernando ao Judeu David Negro que, foi mais tarde, valido de D. Leonor Teles. Este judeu tomou o partido de D. Beatriz de Castela e foi por isso despojado dos seus bens por D. João I. A Quinta Famosa foi mais tarde pertença da princesa, D. Maria Francisca Benedita, (irmã da rainha D. Maria I) e da Infanta D. Isabel Maria, filha do rei D. João VI. A riqueza económica desta povoação acentua-se desde a Idade Média na cultura da vinha e na exploração da lenha e da madeira, da extensa floresta que se estendia até às faldas da Serra da Arrábida, fazendo parte da “Coutada” que é descrita em 1381 por D. Fernando.

As primeiras referências à Confraria de Nossa Senhora do Monte Sião (padroeira da paróquia, única no país e, ao que parece, em toda a Europa) datam de meados do séc. XVI. Em 1673 os moradores da freguesia de Nossa Senhora do Monte Sião de Amora, solicitam ao rei D. Pedro que não sejam obrigados a ir às procissões e festas de Almada (em cujo termo Amora se inseria).
Desde muito cedo se edificaram portos em toda a Freguesia de Amora, desde o “Porto do Carrasco” em Corroios, até ao “Porto da Raposa” no Correr d’ Água, para garantirem o escoamento da lenha, madeira, vinho e farinha, principais produtos desta área, com destino a Lisboa. No início do séc. XVIII, conforme nos relata o Padre Luís Cardoso, no “Dicionário Geográfico”, eram registados também os seguintes portos em toda a Freguesia de Amora: os da Quinta dos Lobatos, Quinta da Prata, Quinta das Formosas, Quinta do Minhoto, Quinta da Marinha, Barroca e Talaminho. Data do séc. XV (por volta de 1497) a edificação de um moinho de maré, junto ao Porto da Raposa (já em 1403 tinha sido construído em Corroios um moinho deste género, por ordem de D. Nuno Álvares Pereira). É de salientar a importância que estes moinhos tiveram na epopeia dos Descobrimentos, pois era aqui produzida a farinha, da qual eram fabricados os famosos “biscoitos” (alimento fundamental dos nossos marinheiros nas suas longas viagens). Convém não esquecer que, o Moinho de Maré de Corroios é atualmente o único apto a funcionar, estando classificado como imóvel de interesse público, adquirido pela Câmara Municipal do Seixal, em 1980. A construção destes moinhos marca o início da industrialização da Freguesia de Amora, embora com características pré-industriais, próprias da atividade moageira incentivada em toda a área dos esteiros durante a Idade Média.

Os moradores de Amora eram homens do mar, carreiros, mateiros, moleiros, trabalhadores e lavadeiras, como nos refere o “Livro das Visitações”, do século XVIII. Por aqui se pode apreciar a grande variedade de atividades desta freguesia desde há longos anos.
Em 1736 a paróquia de Corroios possuía, além da Igreja Matriz, a Ermida de Stª Marta onde, nos dias 28 e 29 de Julho, se festejava a padroeira com missa cantada e sermão, recebendo “muita gente de romagem de Caparica, Amora de Cima, Amora de Baixo, Arrentela e Almada“. A nossa freguesia começa a sentir os efeitos da máquina a vapor, a partir da segunda metade do séc. XIX. O desenvolvimento industrial e todos os movimentos que lhe estavam ligados, bem como a existência, em 1862, de uma fábrica de moagem e descasque de arroz e a implantação, em 1888, da Companhia de Vidros de Amora, na Quinta dos Lobatos, que foi a primeira unidade do género (no fabrico de garrafões), a existir em toda  a Península Ibérica, são responsáveis pelo nascimento de uma consciência social e associativa que não mais parou até aos nossos dias. Junto da fábrica nasceu um bairro operário (parte dele, ainda hoje existente), cujos habitantes eram muitos deles de origem inglesa, mas devido ao “Ultimatum”, foram repatriados e substituídos por operários alemães. Neste período, o movimento associativo agigantou-se, salientando-se a criação da Sociedade Filarmónica Operária Amorense (S.F.O.A.), em 1898, a fundação de uma Caixa de Auxílio Mútuo.

A construção do Coreto de Amora decorreu em 1907, através de subscrição pública e oferecido à S. F. O. A. Mais tarde, em 1921, foi fundado o Amora Futebol Clube, que escreveu a página mais gloriosa da sua história ao ascender à 1ª Divisão do Campeonato Nacional em 1979/80. No final do séc. XIX instalou-se em Vale de Milhaços uma fábrica de pólvora de primeira categoria, equipada com uma máquina a vapor. Outras indústrias se estabeleceram na região, nomeadamente nos setores da cortiça, da reparação, construção naval e construção civil.
Mas foi só a partir de meados do presente século, que a paisagem se começou a alterar, sendo as quintas substituídas pelo casario, que lhe conferiu características urbanas muito próprias, bem como por um parque industrial. Assim, em 1900 a população residente na área da então Freguesia de Amora (que integrava o território das atuais freguesias de Amora e Corroios, bem como parte da atual freguesia de Fernão Ferro), era de 2075 habitantes (Censo da população do reino de Portugal, no 1º. de Dezembro de 1900, Lisboa, 1906).

A instalação da Siderurgia Nacional em Paio Pires e a ligação a Lisboa, através da ponte sobre o Tejo e da auto-estrada do Sul, na década de 60, despoletaram uma verdadeira explosão demográfica. Durante as décadas de 60 e 70 toda a região sofreu um processo de urbanização acelerada, registando uma das mais altas taxas de crescimento demográfico. Em 1989 Amora foi elevada à categoria de Vila, tendo sido elevada à categoria de Cidade, posteriormente em 1993.
A Cidade de Amora é constituída pelos seguintes lugares: Amora de Baixo, Amora de Cima, Belverde, Correr d’água de Amora, Cruz de Pau, Fogueteiro, Foros de Amora, Marco Severino, Paivas, Pinhal Conde da Cunha, Ponta dos Corvos, Quinta dos Caldinhos, Quinta do Conde, Quinta do Paço, Quinta da Princesa, Santa Marta, Soutelo, Talaminho e Vale de Gatos.

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